Lenz Jacobsen
Em Colônia (Alemanha)
Os populistas de direta querem montar uma frente unida para combater o que eles chamam de crescente islamização do continente, em uma conferência em Colônia neste final de semana. Sem poder para impedir o evento, autoridades locais antecipam a chegada de milhares de manifestantes.
A praça Heumarkt, na parte antiga de Colônia, é mais conhecida por ser local de convergência de milhares e milhares de foliões fantasiados no dia 11 de novembro, às 11h da manhã, celebrando a chegada do mais famoso festival ao longo do Rio Reno, o carnaval. Neste sábado, contudo, a Heumarkt vai se tornar o ponto focal para um evento totalmente diferente e decididamente menos alegre. Em vez das músicas animadas incansáveis de carnaval, a praça estará cheia de lemas da direita radical e provocações anti-muçulmanas.
O grupo Pró-Colônia (Pro Köln), que ganhou proeminência política nesta cidade de 1 milhão de habitantes com sua campanha vociferante contra a construção de uma enorme mesquita - e até conquistou assentos na Câmara dos Vereadores no caminho - deve fazer uma conferência para deter o que descreve como crescente "islamização" da Europa. Seria difícil encontrar outra cidade alemã onde o debate sobre a integração e o papel do islã tem sido tão concreto quanto aqui. E em nenhuma outra parte foi mais fácil observar o dano colateral que pode ocorrer quando políticos tentam lidar com os temores que muitas pessoas têm sobre a chamada islamização.
Há semanas, o Pró-Colônia promete tornar o ponto histórico em um palco para populistas europeus de direita, com 100 participantes e centenas de simpatizantes reunindo-se na "Conferência Anti-Islamização". Mais de 40 mil contra-manifestantes também são esperados na cidade, e a polícia está descrevendo a tarefa como uma das "mais difíceis" de todos os tempos. Colônia, afinal, abriga 330 mil pessoas com origem estrangeira -entre elas, 64 mil com passaporte turco. Três mil policiais de todo o Estado da Renânia do Norte-Vestfália serão enviados à cidade.
Em um esforço para atrair grandes multidões ao evento, o Pró-Colônia recentemente revelou uma lista de palestrantes incluindo os mais famosos na cena populista de direita européia. Entre os principais, listou Jean-Marie Le Pen da Frente Nacional francesa ("acredito na desigualdade de raças") e Heinz-Christian Strache, candidato a chanceler pelo Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) - um homem que teve contato com o grupo extremista de direita banido Juventude Viking e quer fazer uma emenda na constituição austríaca para proibir a construção de mesquitas. O grupo também disse que esperava Mario Gorghezio da Liga Norte da Itália e Filip Dewinter, do Vlaams Belang da Bélgica, grupo de direita flamengo que conquistou 12% dos votos nas últimas eleições. Seu objetivo é formar uma aliança contra a islamização da Europa.
Pervertendo a verdade
Entretanto, a poucos dias do evento, correram boatos que os organizadores da conferência talvez tivessem manipulado a verdade sobre os participantes famosos.
Quando contatados pelo Spiegel Online nesta semana, um porta-voz de Le Pen alegou que o político francês nunca concordara em discursar ou participar e acusou o Pró-Colônia de usar seu nome "para fazer propaganda". No início desta semana, Strache, da Áustria, cancelou sua participação. Em seu lugar irá o secretário-geral do FPÖ, Harald Vilimsky.
Tanto Le Pen quanto Strache ainda estão listados como principais palestrantes no site da conferência. Entretanto, em vez de remover seus nomes, o Pró-Colônia está reclamando de uma "campanha de desinformação". Sem as duas estrelas políticas da extrema direita, a lista de participantes está começando a parecer muito menos impressionante. A conferência, ainda assim deve prosseguir.
O Pró-Colônia tem como assunto predileto a questão da "islamização" da Europa. Recentemente, o grupo beneficiou-se quando partidos políticos estabelecidos favoreceram a construção do que foi descrito como "mega-mesquita" na cidade. No dia 28 de agosto, membros da prefeitura deram sua aprovação final para a construção da casa de adoração muçulmana, que terá minaretes de 55 m de altura. Liderados por Markus Beisicht, ex-membro do Partido Republicano de extrema direita da Alemanha, o movimento contra a construção da mesquita pelo Pró-Colônia promoveu o grupo nas eleições locais recentes, nas quais os populistas de direita obtiveram 4,7% dos votos totais.
O Pró-Colônia diferencia-se do pouco palatável Partido Nacional Democrático (NPD), de extrema direita, descrevendo-se como conservador moderado para os que se opõem ao que descreve como islamização da sociedade alemã. Para sua primeira conferência, convidou pessoas que pensam da mesma forma em toda a Europa.
Do ponto de vista dos participantes, a conferência terá lugar em território neutro. "A direita na Alemanha ainda é muito fraca", explicou o separatista flamengo Dewinter. "Então, haverá menos brigas internas aqui". Dewinter e os outros dizem que estão tentando organizar uma lista de candidatos para as eleições de 2009 para o Parlamento Europeu. O líder belga até sonha em criar um "Internacional de Nacionalistas", um jogo de palavras com a organização internacional comunista.
Essa perspectiva já está deixando alguns países do Oriente Médio nervosos. Há duas semanas, o Irã pediu aos franceses - que atualmente detêm a presidência rotativa da União Européia - que proibissem a conferência. Os políticos e as autoridades em colônia vêm procurando fazer isso há mais de um mês. Entretanto, segundo informou um advogado especialista à polícia, seria improvável que a justiça concordasse em proibir a reunião. A polícia teve sucesso, entretanto, em impedir que os ativistas da extrema direita se reunissem na frente da mundialmente famosa Catedral de Colônia.
"Uma enorme dor de barriga"
"É uma enorme dor de barriga", diz o prefeito de Colônia Fritz Schramma, cuja prefeitura será forçada a deixar seus próprios escritórios disponíveis aos nacionalistas na sexta-feira. As autoridades tiveram pouca escolha. Os políticos do Pró-Colônia, membros do governo da cidade, estão meramente exercitando seu direito legal de anunciar uma "conferência ampla do partido", na prefeitura, junto com seus convidados. O líder do Pró-Colônia, Beisicht, disse que o grupo provavelmente se reunirá "em torno de Colônia e nos arredores da cidade". Também estava no programa uma viagem para Ehrenfeld, bairro onde a construção da enorme mesquita deve começar em breve.
Às vésperas do início da conferência, ainda não está clara a agenda exata. Uma coisa é certa, contudo: uma batalha de três dias entre a direita e esquerda alemã é esperada quando a conferência tiver início. Os dois grupos devem convergir de toda a Alemanha para participar de protestos em torno do evento. Na cena da esquerda, alguns já vêm treinando técnicas de barricadas para tentar paralisar a conferência neste final de semana.
Markus Beisicht, entretanto, parece estar mais ansioso com outros grupos do que com o Black Bloc de esquerda. De fato, está preocupado com o apoio não desejado de certas partes.
"Realmente, seria ruim se os neonazistas atraíssem atenção para nós", diz advogado.
Essa avaliação é compartilhada por altas autoridades do Escritório de Proteção da Constituição, agência de inteligência alemã estabelecida depois da Segunda Guerra mundial para impedir a atividade neonazista. "Isso destruiria a imagem pública conservadora de centro que o Pró-Colônia tentou construir com tanto cuidado", disse o vice-presidente da agência, Burkhard Freier.
Enquanto isso, a cidade de Colônia encontrou sua própria forma de dar leveza à situação. Neste final de semana, planeja empregar duas das armas mais valiosas de seu arsenal do carnaval. Os grupos populares locais de carnaval Die Höhner e Brings devem tocar músicas críticas da direita européia.
Tradução: Deborah Weinberg
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