quinta-feira, janeiro 29, 2009

Médico afirma que Israel usou urânio e fósforo em ataques a Gaza

da Efe, em Argel

Mohamed Khouidmi, cirurgião argelino que trabalhou durante a ofensiva de Israel contra Gaza no hospital de Shifa, o maior do território palestino, afirmou que o Exército israelense usou urânio e fósforo branco nos bombardeios à região.

Khouidmi acaba de voltar à Argélia, após atuar como responsável de emergência em Shifa. Em entrevista ao jornal argelino "Liberté", ele afirmou que foi possível ver nos ferimentos de várias pessoas sequelas provocadas pelo urânio.

"O Exército israelense usou mísseis antipessoais que explodiam cerca de 50 centímetros da superfície, o que provoca a amputação dos membros inferiores das pessoas que estão no perímetro da deflagração", afirmou o médico.

O especialista explicou que os feridos por esses mísseis, após horas de intervenção cirúrgica no hospital e, uma vez realizada a amputação e fechada a ferida, eram internados no serviço de reanimação.

"Depois de duas ou três horas, a ferida voltava a abrir-se e a hemorragia matava o paciente", disse Khouidmi, que explicou que isto aconteceu em algumas ocasiões no hospital e que os especialistas concluíram que havia presença de urânio nos mísseis israelenses.

Fósforo branco

O cirurgião argelino afirmou que o que viu em Gaza foi "pior" que o que encontrou no Iraque ou no sul do Líbano, aonde também foi como voluntário médico.

"O que eu constatei em Gaza era estranho, nada a ver com o que pude ver em outros conflitos", explicou.

Além disso, ressaltou que os corpos que examinou no depósito tinham "os intestinos queimados e exalavam um cheiro de alho", por isso disse não ter "nenhuma dúvida" de que o Exército israelense também utilizou fósforo branco em seus ataques.

Khouidmi explicou que ele e outros especialistas que trabalharam em Gaza elaboraram um relatório com exames detalhados e o enviaram ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Eles pedem à organização o envio de uma comissão de investigação neutra sobre a utilização de armas proibidas por parte de Israel, "especialmente o urânio".

Organizações humanitárias das Nações Unidas e a Cruz Vermelha já haviam denunciado o uso de fósforo branco por parte do Exército de Israel contra civis, o que é classificado como crime de guerra.

Diretor da Agência de Energia Atômica cancela entrevista à BBC

da Folha de S. Paulo


O egípcio Mohamed El Baradei, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), um organismo da ONU (Organização das Nações Unidas), cancelou nesta quarta-feira (28) entrevista que daria para a emissora pública britânica BBC.

Foi o mais recente de uma onda de protestos contra a decisão da emissora de não levar ao ar anúncio produzido pelo Comitê para Desastres de Emergência britânico, formado por 13 ONGs e instituições humanitárias, para arrecadar fundos para os palestinos feridos e desabrigados na ofensiva israelense em Gaza.


A BBC argumenta que visou manter sua "imparcialidade" em relação ao conflito entre Israel e o grupo islâmico Hamas. No Reino Unido, a Sky News, emissora de Rupert Murdoch, também não veiculou o anúncio, que mostra cenas fortes do sofrimento de civis em Gaza.


El Baradei disse que cancelou sua entrevista por acreditar que a recusa "viola as regras da decência humana básica". A BBC disse "lamentar" a decisão e informou ter recebido mais de 11 mil queixas. Nesta quarta-feira, 110 parlamentares britânicos endossaram moção contra a rede.


O Comitê para Desastres de Emergência, que inclui grupos como a ONG Oxfam e a Cruz Vermelha, pedira na semana passada às emissoras que divulgassem o apelo --o que foi feito por várias emissoras privadas. A BBC é uma emissora pública nacional, que não aceita publicidade em sua programação, mas já mostrou apelos humanitários outras vezes.


O vídeo foi veiculado na segunda-feira à noite e arrecadou, até esta quarta-feira, US$ 1,4 milhão. O governo israelense tem se mantido fora da questão.

terça-feira, janeiro 20, 2009

Software israelense manobra opiniões na internet

DIÓGENES MUNIZ
editor de Informática da Folha Online

Nem só de caças F-16 e mísseis teleguiados são feitos os ataques israelenses em Gaza. Uma arma em específico se destacou pela eficiência apresentada desde a escalada do conflito --e continuará sendo usada, mesmo após o cessar-fogo. Ela age nos bastidores da internet, modificando resultados de enquetes on-line, entupindo caixas de e-mails de autoridades e ajudando a protestar contra notícias desfavoráveis à comunidade israelense.

O nome da ferramenta é Megaphone, um software desenvolvido pela companhia Collactive e distribuído pela organização Giyus ("mobilização" em hebraico, mas também sigla para "Give Israel Your United Support" ou "Dê a Israel seu apoio integrado", em tradução livre). O programa serve para mobilizar internautas pelo mundo dispostos a manobrar ("balancear", segundo os usuários) opiniões na rede.

Desenvolvido em 2006, durante a Guerra do Líbano, seu uso atingiu 36.700 "soldados virtuais" com o conflito em Gaza. A meta: 100 mil participantes.

Lobby 2.0

O internauta disposto a fazer parte do arrastão cibernético precisa baixar um programa no site Giyus.org, que se apresenta como uma "coalizão de organizações pró-Israel trabalhando juntas para ajudar a comunidade judaica a fazer suas opiniões serem ouvidas de maneira efetiva".

Instalada a plataforma, aparecem no computador alertas em tempo real sobre notícias, enquetes, artigos, vídeos ou blogs que estejam com visões "a favor ou contra" a comunidade. Lembram os avisos de novas mensagens do comunicador instantâneo MSN. O internauta é convidado, a partir daí, a "agir por Israel" --enchendo os alvos de críticas, elogios ou votos.

Com poucos cliques (e sem dominar o idioma da página em questão), é possível influenciar uma pesquisa no site do Yahoo! ou mandar uma notícia sobre mísseis palestinos para a ONU, entre outros. O programa oferece no próprio navegador um formulário completo de "ação" já preenchido, com endereços dos destinatários e conteúdo padrão a ser enviado: o internauta sequer precisa abrir sua conta de e-mail ou clicar em "enviar".

Redes sociais e sites colaborativos, como Facebook e YouTube, também estão na mira do software. Esse tipo de estratégia, que recebeu o apoio do Ministério das Relações Exteriores de Israel, já forçou o site da BBC a tirar uma enquete do ar.

Desde o início da invasão a Gaza, dezenas de comunidades e sites foram "pichados", invadidos ou derrubados, tanto por piratas virtuais palestinos quanto israelenses. O que se destaca neste caso, no entanto, é o modo de atuação do programa, que institucionaliza a manipulação de informação de forma coordenada e colaborativa.

Secretário-geral da ONU deve pôr ponto final no ataque contra Gaza

Editorial do El País (17 de Janeiro)

Enquanto não havia expectativas de cessar-fogo, Israel lançava seus devastadores ataques contra Gaza porque não havia. Agora que essas expectativas existem, torna a fazê-lo porque existem. Com essa insistência no recurso desproporcional à força, Israel não está garantindo uma vitória militar contra o Hamas, assegurada antes de ocorrer o primeiro disparo, mas está aumentando em troca de nada o custo político que pagará por essas três semanas de morte e destruição. Além disso, pesará sobre sua consciência o inútil sacrifício de várias dezenas a mais de vidas inocentes. Porque o balanço total de vítimas já supera o milhar, mais da metade civis.

Desde a madrugada de quinta-feira, apenas algumas horas antes de receber o secretário-geral da ONU, o exército israelense atacou a sede da Agência para Refugiados Palestinos do organismo (UNRWA), um edifício que abriga os meios de comunicação e um hospital da Meia-Lua Vermelha, além de outros 70 alvos qualificados como parte da infraestrutura do Hamas. O ministro da Defesa Ehud Barak qualificou de "grave erro" a primeira dessas ações, embora o primeiro-ministro Olmert tenha recorrido pouco depois ao pretexto reiterado de um ataque prévio por parte dos milicianos palestinos.

Depois da matança em uma escola da UNRWA e das contradições do Executivo israelense, essas explicações não avalizadas com provas de qualquer espécie carecem de credibilidade, além de que não constituiriam uma desculpa para disparar contra civis. E essa falta de credibilidade se projeta agora sobre o ataque contra as instalações dos meios de comunicação e o hospital da Meia-Lua Vermelha, cujos responsáveis negaram qualquer presença de homens armados. Como também se projeta sobre os ataques contra grande número de edifícios oficiais que não são infraestruturas do Hamas, mas do governo de Gaza, seja o que for.

Na medida em que se aproxima o previsível final do ataque, fica mais patente a desproporção com que Israel se conduziu em Gaza. O governo de Olmert não realizou um ato de legítima defesa, mas uma ação de represália e um castigo coletivo que nada pode justificar. A presença do secretário-geral da ONU na região não deve ser só a ocasião para que o governo Olmert apresente desculpas pelos ataques contra as instalações e o pessoal da UNRWA, como o ponto final definitivo em uma ofensiva que provocou consternação entre os amigos de Israel e espanto em todo o mundo.

Assediado por escândalos de corrupção, Olmert deixará o poder depois das eleições de 10 de fevereiro próximo. Sairá com o triste recorde de ter sido o único primeiro-ministro que lançou duas guerras em seu mandato. Com a primeira, levou Israel ao fracasso. Com a segunda, ao descrédito internacional. E se há algo que põe Israel em risco são colheitas políticas como esta.


Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

domingo, janeiro 18, 2009

“Israel está criando homens-bomba”

Chris McGreal, no The Guardian (Tel Aviv, 17 de janeiro)

A convocação chegou por telefone, às 11h de um sábado. O celular de Yitzchak Ben Mocha mostrou “número não identificado”, mas ele sabia. Uma voz gravada ordenava que se apresentasse à sua unidade do exército às 8h da manhã seguinte. Pôs o uniforme na mala, pensando que, dali, iria diretamente para a cadeia. Reservista israelense, 25 anos, Yitzchak saiu de casa apenas para informar a quem o recebesse que não aceitaria lutar naquela guerra, nem, em nenhum caso, participaria de qualquer ação relacionada à guerra de Gaza.

Apresentou-se e o mandaram montar barracas para os soldados em combate.

“Disse ao oficial ‘Não. Não vou fazer isso.’ Na manhã seguinte, mandaram-me de volta para casa. Disseram que me reconvocariam, se fosse necessário. Até agora, não convocaram. Antes, todos os ‘refuseniks’ passavam meses na cadeia. Depois soltavam, depois voltavam a prender, e era isso, meses a fio. Agora, mandam pra casa. Acho que o exército está dispensando quem se recusa a combater para não ter de admitir que há muitos ‘refuseniks’. Seria prejudicial à imagem de que os israelenses e o exército estão unidos nessa guerra.”

O exército tem informado que há tanto apoio à guerra de Gaza, que apresentaram- se mais soldados para lutar o que a imprensa local caracteriza como uma “guerra justa” do que o necessário, e que muitos reservistas apresentaram- se e foram dispensados, para serem reconvocados se necessário. Ben Mocha diz que isso só serve para encobrir o número cada vez maior de homens e mulheres em idade de servir o exército que se recusam a combater contra Gaza.

Uma organização de apoio aos que se recusam a combater, “Courage to Refuse”, publicou manifesto em vários jornais, condenando a matança de centenas de civis palestinos e conclamando os convocados a recusar-se a combater em Gaza. “A violência brutal, sem precedentes, contra Gaza é chocante. É falsa a esperança de que tanta brutalidade trará alguma segurança aos israelenses, e é esperança perigosa. Não podemos nos manter passivos, quando centenas de civis são assassinados na carnificina promovida pelo exército de Israel” - dizia o manifesto.

É difícil saber com segurança quantos recusaram-se a combater em Gaza, porque o exército os dispensa silenciosamente. Até hoje, só um reservista foi preso por recursar-se a combater em Gaza. No’em Levna, primeiro-tenente do exército israelense, foi posto em prisão militar por 14 dias. “Não há o que justifique matar civis inocentes”, disse ele. “Nada justifica essa carnificina. É a arrogância dos israelenses, como se fosse lógica. É como se dissessem ’se os chacinarmos, ficará tudo bem’. Mas o ódio, a ira que estamos plantando em Gaza recairá sobre nós mesmos.”

Ben Mocha não é militante pacifista nem é anti-Israel. Cresceu em família de judeus ortodoxos, frequentou escola religiosa e prestou serviço militar pleno numa unidade de paraquedistas de combate, considerada da elite do exército israelense.

Disse que se alistou pensando em combater “organizações terroristas”. De repente, “estava matando palestinos que lutavam por independência e autodeterminação, ou espancando agricultores em protesto contra o roubo de suas terras.” Também viu abusos, como soldados israelenses que mandavam mulheres e crianças entrar em casas abandonadas, para “verificar” se não estariam minadas. “Isso é usar escudos humanos” - disse.

“Não sou pacifista. Reconheço que é importante para Israel ter um exército eficiente de defesa, mas não quero mais participar de uma operação de ocupação que já tem 40 anos. Comuniquei ao exército que me apresentarei para treinamento, de modo que sempre estarei preparado para defender Israel. Mas atacar Gaza e perpetuar a ocupação não é defender Israel.”

Esse não é um ponto de vista popular em um país onde o culto ao exército começa na escola e muitos líderes políticos são ex-generais. Mas é provável que a guerra fortaleça aqueles que lhe resistem na medida em que os israelenses puderem refletir sobre a escala da matança.

Em 2003 o exército mandou Yoni Ben Artzi para a prisão por 18 meses, por ter declarado “objeção de consciência”. Artzi, sobrinho de Binyamin Netanyahu, o ex-primeiro- ministro favorito para voltar ao poder nas próximas eleições gerais, foi chamado perante um “comitê de consciência”, formado apenas de oficiais militares. Eles decidiram que ele não era um pacifista – já que sua forte resistência ao exército era uma evidência das qualidades de um soldado!

Ele passou mais tempo na prisão do que qualquer outro “refusenik”, mas recentemente o exército optou por fingir que os dissidentes não existem – ao mesmo tempo em que centenas de soldados e reservistas assinaram petições se recusando a apoiar a ocupação.

O governo ficou particularmente embaraçado quando 27 pilotos disseram que não iriam mais levar adiante a matança de palestinos em Gaza, e quando um grupo de elite se recusou a servir nos territórios ocupados.

Ainda assim, posturas como essas permanecem uma exceção. “Alguns dos meus companheiros de exército não gostam do que estou dizendo. Alguns dizem que não concordam, mas respeitam meu direito de dizê-lo. Agora, com a guerra, eles dizem que estou dando um mau nome à minha unidade no exército”, diz Ben Mocha.

Ele sente-se muito perturbado pelo fato de a maioria dos israelenses e praticamente todos os jornais não estarem vendo que centenas de palestinos foram destroçados pelo poder destrutivo de Israel. “No longo prazo, não é guerra de defesa. Estamos criando mil homens-bomba, que nos atacarão: são os filhos, os irmãos dos que matamos em Gaza. No longo prazo, Israel só gerou mais terror. Não se pode separar a guerra de Gaza do fato de que a Palestina está sob ocupação há mais de 40 anos. Não estou justificando os foguetes do Hamas, mas os israelenses deveriam preocupar-se mais, hoje, com o que nós estamos fazendo.”


* tradução: Caia Fittipaldi e Daniel Lopes.

http://www.amalgama .blog.br/ 01/2009/israel- esta-criando- homens-bomba/

"Tempo dos virtuosos", por Gideon Levy, no Haaretz

Gideon Levy, no Haaretz (Tel Aviv, 9 de janeiro)

Essa guerra, talvez mais que as anteriores, está expondo as veias profundas da sociedade de Israel. Racismo e ódio erguem a cabeça, a sede de vingança e de sangue. A “tendência do comando” no exército de Israel hoje é matar, “matar o mais possível”, nas palavras dos porta-vozes militares na televisão. E ainda que falassem dos combatentes do Hamas, ainda assim essa disposição seria sempre horrenda.

A fúria sem rédeas, a brutalidade é chamada de “exercitar a cautela”: o apavorante balanço do sangue derramado – 100 palestinos mortos para cada israelense morto é um fato que não está levantando qualquer discussão, como se Israel tivesse decidido que o sangue dos palestinos valesse 100 vezes menos que o sangue dos israelenses, o que manifesta o inerente racismo da sociedade de Israel.

Direitistas, nacionalistas, chauvinistas e militaristas são o bom-tom da hora. Ninguém fale de humanidade e compaixão. Só na periferia ouvem-se vozes de protesto - desautorizadas, descartadas, em ostracismo e ignoradas pela imprensa -, vozes de um pequeno e bravo grupo de judeus e árabes.

Além disso tudo, soa também outra voz, a pior de todas. A voz dos cínicos e dos hipócritas. Meu colega Ari Shavit parece ser o seu mais eloquente porta-voz. Essa semana, Shavit escreveu neste jornal (”Israel deve dobrar, triplicar, quadruplicar a assistência médica em Gaza” - Haaretz, 7/1): “A ofensiva israelense em Gaza é justa (…). Só uma iniciativa imediata e generosa de socorro humanitário provará que, apesar da guerra brutal que nos foi imposta, nos lembramos de que há seres humanos do outro lado.”

Para Shavit, que defendeu a justeza dessa guerra e insistiu que Israel não poderia deixar-se derrotar, o custo moral não conta, como não conta o fato de que não há vitória possível em guerras injustas como essa. E, na mesma frase, atreve-se a falar dos “seres humanos do outro lado”.

Shavit pretende que Israel mate e mate e, depois, construa hospitais de campanha e mande remédios para os feridos? Ele sabe que uma guerra contra civis desarmados, talvez os seres mais desamparados do mundo, que não têm para onde fugir, é e sempre será vergonhosa. Mas essa gente sempre quer aparecer bem. Israel bombardeará prédios residenciais e depois tratará os feridos e mutilados em Ichilov; Israel meterá uns poucos refugiados nas escolas da ONU e depois tratará os aleijados em Beit Lewinstein. Israel assassinará e depois chorará no funeral. Israel cortará ao meio mulheres e crianças, como máquina automática de matar e, ao mesmo tempo, falará de dignidade.

O problema é que nada disso jamais dará certo. Tudo isso é hipocrisia ultrajante, vergonhoso cinismo. Os que convocam em tom inflamado para mais e mais violência, sem considerar as consequências, são, de fato, os que mais se auto-enganam e os que mais traem Israel.

Não se pode ser bom e mau ao mesmo tempo. A única “pureza” de que cogitam é “matar terroristas para purificar Israel”, o que significa, apenas, semear tragédias cada vez maiores. O que está sendo feito em Gaza não é desastre natural, terremoto, inundação, calamidades em que Israel teria o dever e o direito de estender a mão aos flagelados, mandar equipes de resgate, como tanto gostamos de fazer. Toda a desgraça, todo o horror que há hoje em Gaza foi feito por mãos humanas - as mãos de Israel. Quem tem mãos sujas de sangue não pode oferecer ajuda. Nenhuma compaixão nasce da brutalidade.

Pois ainda há quem pretenda enganar todos todo o tempo. Matar e destruir indiscriminadamente e, ao mesmo tempo, fazer-se de bom, de justo, de homem de consciência limpa. Prosseguir na prática de crimes de guerra, sem a culpa que os acompanha sempre. É preciso ter sangue frio.

Quem justifica essa guerra justifica todos os crimes. Quem prega mais guerra e crê que haja justiça em assassinatos em massa perde o direito de falar de moralidade e humanidade. Não existe qualquer possibilidade de, ao mesmo tempo, assassinar e reabilitar aleijados. Esse tipo de atitude é a perfeita representação das duas caras de Israel, sempre alertas: praticar qualquer crime, mas, ao mesmo tempo, auto-absolver- se, sentir-se imaculado aos próprios olhos. Matar, demolir, espalhar fome e sangue, aprisionar, humilhar… e sentir-se bom, sentir-se justo (sem falar em não se sentir cínico). Dessa vez, os senhores da guerra não conseguirão dar-se esses luxos.

Quem justifica essa guerra justifica todos os crimes. Quem diz que se trata de guerra de defesa, prepare-se para suportar toda a responsabilidade moral pelas consequências do que faz e diz. Quem empurra os políticos e os militares para ainda mais guerra, saiba que carregará a marca de Cain estampada na testa, para sempre. Os que apóiam essa guerra, apóiam o horror.


* tradução: Caia Fittipaldi

http://www.amalgama .blog.br/ 01/2009/tempo- dos-virtuosos/

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Bombardeios em Gaza matam três jogadores da seleção palestina

da Lancepress

O conflitos na Faixa de Gaza causaram a morte de três jogadores da seleção palestina apenas nesta semana. A região tem sofrido com constantes ataques israelenses desde dezembro do ano passado.

Ayman Alkurd, do Al-Ryadi de Falasteen, e Shadi Sbakhe, do Khadamat Alniserat, morreram após terem suas casas bombardeadas. Já Wajeh Moshtahe, apontado como uma das maiores revelações do futebol palestino, foi vítima de uma bomba quando caminhava pela rua.

O estádio Rafah de Gaza também foi alvo dos ataques. O local, que era a casa da seleção palestina até outubro do ano passado, foi completamente destruído.

Diretor de agência da ONU denuncia uso de bombas de fósforo em Gaza

GAZA, 15 Jan 2009 (AFP) - O incêndio que devastava nesta quinta-feira o complexo da agência da ONU para ajuda aos refugiados palestinos (UNRWA) na cidade de Gaza se deve a bombas de fósforo lançadas pelo exército israelense, afirmou o diretor da agência, John Ging.

"Não há combates nos arredores do complexo. Foram obuses de artilharia e bombas de fósforo que alcançaram a zona do armazém e das oficinas", declarou Ging à CNN. "É preciso abrir uma investigação a respeito".

"Agora estamos diante de um incêndio causado por bombas de fósforo, que é muito difícil de apagar porque usar água será tóxico", explicou.

Segundo ele, existem 700 pessoas no local, muitos feridos que precisam ser evacuados. "A situação é muito séria. O problema e que também temos um enorme depósito de combustível".

"O complexo é a plataforma de todas as operações humanitárias em Gaza, os alimentos, o combustível, está tudo armazenado aqui", enfatizou.

Por causa do ataque desta quinta-feira, a UNRWA anunciou a suspensão das atividades em Gaza.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moom, se disse ultrajado com o bombardeio israelense contra a principal agência da ONU de ajuda aos palestinos em Gaza.

"Fiz saber que protesto firmemente e que estou escandalizado. Já pedi uma explicação detalhada ao ministro da Defesa e ao ministro das Relações Exteriores", declarou Ban à imprensa em Tel Aviv.

Na véspera, a ONG Human Rights Watch voltou a pedir a Israel que não use armas contendo fósforo branco, ou substâncias químicas tóxicas similares, nas zonas povoadas da Faixa de Gaza.

O fósforo branco "é um componente químico que incendeia os edifícios e queima as pessoas", alertou o diretor da HRW, Kenneth Roth, em entrevista coletiva em Washington.

"Isso não deve ser utilizado nas zonas povoadas", acrescentou.

A exposição a esse agente tóxico pode ser fatal. Sua utilização não está proibida por qualquer tratado internacional, mas o Protocolo III da Convenção de 1980 sobre as Armas Convencionais proíbe seu uso contra populações civis, ou contra forças militares instaladas entre as populações civis.

Explosões atingem órgãos de imprensa em Gaza

GAZA (Reuters) - Uma explosão atingiu na quinta-feira um edifício onde funcionam a sucursal da Reuters e de vários outros veículos de comunicação na Faixa de Gaza. Colegas disseram que um jornalista da TV de Abu Dhabi (Emirados Árabes) ficou ferido.

Jornalistas da Reuters que trabalhavam na sucursal naquele momento disseram que um míssil ou foguete de Israel aparentemente atingiu o lado sul do 13o andar da Torre Al Shurouq, no centro da Cidade de Gaza.

A Reuters retirou seus funcionários do prédio, mas uma câmera que transmite imagens ao vivo de Gaza desde o início da guerra continuou funcionando. Imagens de TV de um outro local mostraram fumaça saindo dos andares superiores do prédio de 16 andares.

A TV de Abu Dhabi, onde o jornalista ficou ferido, funciona no 14o andar. No 13o há uma produtora de TV local. A sucursal da Reuters é no 12o andar.

Um porta-voz militar israelense conversara com funcionários da Reuters em Jerusalém pouco antes da explosão, para confirmar a localização da sucursal da agência em Gaza.

A Reuters havia fornecido ao Exército as coordenadas geográficas da sua sucursal no início da guerra, e em várias ocasiões recebeu garantias de que o local não seria alvejado.

Depois da explosão, uma porta-voz militar disse estar se informando sobre o incidente. Ela declarou que as tropas israelenses trocavam tiros com o Hamas na cidade e que alguns guerrilheiros teriam ocupado um edifício da imprensa naquele bairro na noite de quarta-feira.

Jornalistas da Reuters disseram não estar cientes da presença de militantes armados no prédio antes do ataque.

Durante a invasão norte-americana em Bagdá, em abril de 2003, um cinegrafista da Reuters foi morto e três colegas ficaram feridos pelo disparo de um tanque dos EUA contra a sucursal da agência no hotel Palestine. Um cinegrafista espanhol também morreu naquele incidente.

Remédios do Brasil estavam em prédio da ONU bombardeado em Gaza

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, fez nesta quinta-feira uma viva condenação ao ataque de Israel contra as instalações da Organização das Nações Unidas (ONU) na Faixa de Gaza.

Segundo o chanceler, neste local estavam estocados os remédios enviados pelo Brasil à Faixa de Gaza. Amorim afirmou, no entanto, não saber se a ajuda humanitária havia sido destruída.

"É necessário que, como em outros casos, seja feita uma investigação em detalhes de por quê aconteceu esse ataque nesse lugar", disse Amorim a jornalistas, destacando que os depósitos tinham fins exclusivamente humanitários.

Para o ministro, falta vontade política para que seja fechado um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas.

O chanceler brasileiro conclamou a comunidade internacional para que aumente a pressão pelo respeito à resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que pede o fim do conflito, que já matou mais de mil palestinos na Faixa de Gaza. Amorim voltou a defender a ampliação do grupo de países que faz a intermediação das conversas de paz na região.

"Os elementos para a paz estão dados. O que falta é vontade política de concretizar a paz", enfatizou Amorim, lembrando que a resolução da ONU determina o cessar-fogo, a retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza e a abertura da fronteira entre Israel e o território palestino.

"Se não houver esse cumprimento, estaríamos sendo jogados para uma lei da selva nas relações internacionais, o que não interessa a ninguém", acrescentou, destacando que os palestinos são o lado mais fraco do conflito.

Amorim, que acabou de voltar de um giro pelo Oriente Médio para conversar sobre a paz na região, lembrou que o Brasil defende a existência de Israel e também a criação de um Estado palestino.

"Têm que ser dois Estados viáveis. A Palestina não pode ser totalmente dividida e totalmente impossibilitada de existir como um Estado economicamente viável", destacou o ministro.

Para Amorim, Israel tem que existir com segurança, o que não ocorrerá se a questão só for vista do ponto de vista militar. "Não achamos que há futuro para Israel com o país se transformando em uma espécie de bunker cercado por países por todos os lados que tenham sentimentos variados", complementou.

Em sua viagem ao Oriente Médio, Amorim também reforçou o discurso de que o diálogo entre judeus e palestinos tem que ser intermediado por mais países. "Talvez essas discussões de paz necessitem de um ar novo, um ar fresco", disse, lembrando que, além do Brasil, Espanha e Turquia tentam participar de forma mais efetiva nesse caso.

O ministro também afirmou que todos os países da região devem trabalhar pela paz e assegurou que defenderá esse ponto de vista com as autoridades iranianas quando encontrá-las no futuro.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Gaza: uma guerra popular em Israel

JERUSALÉM (AFP) - No sétimo dia da guerra conduzida por Israel contra o Hamas em Gaza, os líderes israelenses estão sendo beneficiados com um apoio em massa da população.

A guerra é popular, segundo as pesquisas, e globalmente apoiada pela imprensa israelense - um respaldo que se explica por vários elementos: a relação de força é claramente favorável a Israel, além de visar um inimigo jurado, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza.

E esta aprovação é dada apesar das imagens de crianças mortas em Gaza e do temor de que uma ofensiva terrestre custe a vida de numerosos soldados judeus.

No total, a operação "chumbo grosso" é apoiada por 95% da população israelense, 80% sem nenhuma reserva, diz uma pesquisa publicada pelo jornal Maariv, a semanas das eleições antecipadas de Israel previstas para 10 de fevereiro; 44% das pessoas ouvidas têm, agora, "opinião mais positiva" em relação ao Ministro da Defesa e líder do Partido Trabalhista, Ehud Barak.

Quarta-feira, 71% das pessoas ouvidas se declararam a favor do prosseguimento da ofensiva aérea, segundo o jornal Haaretz levando em conta a opinião da minoria árabe (20% da população) hostil à operação.

Nesse contexto, o Partido Trabalhista (centro-esquerda), que estava em queda livre nas pesquisas antes da ofensiva, conseguiria atualmente eleger 16 dos 120 deputados da futura Knesset (parlamento israelense) contra os 12 atribuídos pelas sondagens anteriores. Na atual legislatura, conta com 19 representantes.

O Likud, principal formação da oposição de direita em Israel dirigida pelo ex-chefe de governo Benjamin Netanyahu, está igualado com o partido Kadima (centrista) da ministra das Relações Exteriores Tzipi Livni, com 28 vagas, segundo as intenções de voto para as legislativas de 10 de fevereiro.

O bombardeio da casa de um líder do Hamas, Nizar Rayan, assassinado na quinta-feira junto com suas quatro esposas e onze dos doze filhos, foi saudado pelo jornal de grande tiragem Yediot Aharonot como um "grande feito".

O jornal Maariv revela por sua vez que esta operação, que não poderia senão fazer vítimas inocentes, havia recebido o aval prévio do procurador-geral do Estado, Menahem Mazuz, para proteger os responsáveis de eventuais processos por "crimes de guerra".

O jornal Haaretz (liberal) concede, também ele, um "satisfecit" às forças armadas pela condução da ofensiva, contrastando com as medíocres performances durante a guerra do Líbano no verão de 2006.

As únicas críticas provêem da esquerda minoritária, de uma extrema esquerda marginalizada e por partidos representantes da minora árabe.

O partido Meretz que havia conclamado uma ofensiva em Gaza para fazer parar os lançamentos de foguetes pede, agora, que a operação cesse, o mesmo acontecendo com o movimento antianexionista "A Paz Agora" e vários escritores de renome.

Opositores protestam nesta sexta-feira diante do ministério da Defesa em Tel Aviv e preparam manifestação para a noite de sábado, acusando os dirigentes judeus de "crimes de guerra".


Leia também: "Reservista israelense é preso por não combater em Gaza"

Olmert diz que falou com Bush para forçar EUA a mudar voto na ONU

JERUSALÉM (Reuters) - O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, disse que um telefonema que fez na semana passada ao presidente norte-americano, George W. Bush, obrigou a secretária de Estado Condoleezza Rice a se abster na votação de uma resolução da ONU sobre a guerra na Faixa de Gaza, deixando-a "envergonhada".

Carregando forte na bravata política num discurso feito na noite de segunda-feira, Olmert disse que exigiu falar com Bush na quinta-feira passada, faltando apenas dez minutos para uma votação no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre uma resolução pedindo um cessar-fogo imediato. Israel era contrário à resolução.

"Quando vimos que a secretária de Estado, por razões que não compreendíamos realmente, queria votar a favor da resolução da ONU ... eu procurei o presidente Bush, e me disseram que ele estava na Filadélfia, fazendo um discurso", disse Olmert.

"Falei 'não me importa. Preciso falar com ele agora mesmo'", afirmou Olmert, referindo-se a Bush, que deixará a presidência dos EUA em 20 de janeiro, como "amigo ímpar" de Israel.

"Tiraram Bush do pódio, levaram-no para outra sala, e eu conversei com ele. Eu disse a ele: 'Vocês não podem votar a favor desta resolução'. Ele falou: 'Escute, eu não estou sabendo sobre isso, não vi a resolução, não estou familiarizado com o texto dela.'"

Olmert afirmou que então falou a Bush: "Eu estou familiarizado. Você não pode votar a favor."

"Ele deu uma ordem à secretária de Estado, e ela não votou a favor - uma resolução que ela mesma arquitetou, redigiu, organizou e pela qual manobrou. Ela ficou bastante envergonhada e se absteve de votar numa resolução que ela mesma tinha organizado", disse Olmert.

Quatorze dos 15 membros do Conselho de Segurança foram a favor da resolução, que não conseguiu interromper a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza nem o disparo de foguetes pelo Hamas contra território israelense.

Olmert, que está sendo investigado pela polícia por alegada corrupção, renunciou ao cargo de primeiro-ministro em setembro, mas continua a exercê-lo interinamente até que seja formado um novo governo, o que acontecerá após a eleição parlamentar de 10 de fevereiro em Israel.


Leia também: "Grécia barra saída de armas dos EUA que iam para Israel" e "Portugal fecha espaço aéreo a aviões com armas para Israel"

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Príncipe Harry se desculpa por se referir a soldado com termo racista

Londres, 11 jan (EFE) - O príncipe Harry, terceiro na linha de sucessão do trono britânico, voltou a causar polêmica no Reino Unido com a divulgação de um vídeo no qual é possível ouvi-lo usando um apelido racista - "Paqui" - para se referir a um colega do Exército.

Depois que veio a público a existência do vídeo, divulgado hoje pelo tablódie "News of the World", o príncipe se viu obrigado a pedir desculpas em público por suas palvras ofensivas.

Em nota, o palácio de Clarence House afirmou que Harry tem "muita consciência do quão ofensivo o termo pode ser" e que "sente muitíssimo" por ter ofendido alguém.

No entanto, o palácio observa que o incidente em questão, no qual o príncipe chamou de "Paqui" um colega de origem paquistanesa enquanto filmava um vídeo, aconteceu há três anos, quando estava se formando na academia militar Sandhurst.

A Clarence House afirmou disse ainda que o apelido foi proferido em sentido amistoso e "sem malícia".

"Paqui" é um termo pejorativo no Reino Unido usado para descrever, normalmente com conotações xenófobas, pessoas de aparência árabe ou muçulmana.

O vídeo obtido pelo "News of the World" foi filmado pelo próprio Harry, como um diário pessoal, durante um período de instrução no Chipre, em 2006.

O príncipe começa filmando no aeroporto, enquanto os soldados esperam seu vôo para a ilha.

Ao passar com a câmera por onde está sentado no chão seu colega asiático, identificado como Ahmed Raza Khan, atual capitão do Exército paquistanês, o príncipe sussurra: "Ah, (aqui está) nosso amiguinho 'paqui', Ahmed".

Em outro momento do vídeo, Harry filma um companheiro que cobriu a cabeça com um pano. "Não f..., você está parecendo um 'raghead'", fala o príncipe, usando um termo pejorativo que geralmente designa árabes ou muçulmanos que cobrem a cabeça com um lenço.

A Clarence House esclareceu que, nessa segunda gafe, o filho mais novo de Charles e Diana utilizou a palavra "raghead" (cabeça de lenço, em tradução livre), aparentemente comum nos Exércitos britânico e americano, em referência "aos talibãs ou insurgentes iraquianos".

Os dois incidentes geraram críticas e pedidos de uma investigação por parte da Comissão britânica de Igualdade e Direitos Humanos.

O Ministério da Defesa disse que examinará os fatos e ressaltou que "este tipo de linguagem não é aceitável em um Exército moderno".

sábado, janeiro 10, 2009

O que você não sabe sobre Gaza

The New York Times
Rashid Khalidi*

Quase tudo o que levaram você a acreditar sobre Gaza está errado. Abaixo estão alguns poucos pontos essenciais que parecem estar ausentes da conversa, grande parte da qual transcorrendo na imprensa, sobre o ataque de Israel à faixa de Gaza.

Os habitantes de Gaza

A maioria das pessoas que vivem em Gaza não está lá por opção. A maioria dos 1,5 milhão de pessoas espremidas nos aproximadamente 360 quilômetros quadrados da faixa de Gaza pertence a famílias que vieram de cidades e aldeias fora de Gaza, como Ashkelon e Beersheba. Elas foram expulsas para Gaza pelo exército israelense em 1948.

A ocupação

Os moradores de Gaza vivem sob ocupação israelense desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Israel ainda é amplamente considerado um poder de ocupação, apesar de ter removido suas tropas e colonos da faixa em 2005. Israel ainda controla o acesso à área, as importações e exportações e a entrada e saída das pessoas. Israel tem controle sobre o espaço aéreo de Gaza e sua costa marítima, e suas forças entram na área à vontade. Como poder de ocupação, Israel tem a responsabilidade segundo a Quarta Convenção de Genebra de assegurar o bem-estar da população civil da faixa de Gaza.

O bloqueio

O bloqueio de Israel à faixa, com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia, tem se tornado cada vez mais severo desde que o Hamas venceu as eleições para o Conselho Legislativo Palestino em janeiro de 2006. Combustível, eletricidade, importações, exportações e a entrada e saída das pessoas da faixa têm sido lentamente sufocados, levando à problemas de saneamento, saúde, abastecimento de água e transporte que colocam as vidas em risco.

O bloqueio sujeitou muitos ao desemprego, miséria e desnutrição. Isso representa uma punição coletiva -com apoio tácito dos Estados Unidos- de uma população civil por ter exercido seus direitos democráticos.

O cessar-fogo

A suspensão do bloqueio, juntamente com um cessar dos disparos de foguetes, foi um dos termos-chave do cessar-fogo de junho entre Israel e o Hamas. Este acordo levou à redução dos foguetes disparados de Gaza, de centenas em maio e junho para um total de menos de 20 nos quatro meses subsequentes (segundo números do governo israelense). O cessar-fogo foi rompido quando as forças israelenses lançaram um grande ataque aéreo e por terra no início de novembro; seis membros do Hamas teriam sido mortos.

Crimes de guerra

Atacar civis, seja pelo Hamas ou por Israel, é potencialmente um crime de guerra. Toda vida humana é preciosa. Mas os números falam por si só: quase 700 palestinos, a maioria deles civis, foram mortos desde o início do conflito no final do ano passado. Em comparação, cerca de uma dúzia de israelenses foram mortos, muitos deles soldados. Negociação é uma forma mais eficaz de lidar com foguetes e outras formas de violência. Isso poderia ter acontecido se Israel tivesse cumprido os termos do cessar-fogo de junho e suspendido o bloqueio à Faixa de Gaza.

Esta guerra contra a população de Gaza não se trata realmente de foguetes. Nem envolve a "restauração da dissuasão por Israel", como a imprensa israelense tenta fazer você acreditar. Mais reveladoras foram as palavras de Moshe Yaalon, o então chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa israelenses, em 2002: "Os palestinos precisam entender nos recessos mais profundos de sua consciência que são um povo derrotado".

*Rashid Khalidi, um professor de estudos árabes da Universidade de Colúmbia, é autor do futuro livro "Sowing Crisis: The Cold War and American Dominance in the Middle East" [Semeando crises: a Guerra Fria e o domínio americano no Oriente Médio].


Tradução: George El Khouri Andolfato

Depressão e medo cercam nossas casas, diz jovem palestina

Nour Kharma, 14, e sua família estão em uma casa na cidade de Gaza, que tem sido alvo de ataques israelenses há quase duas semanas. De lá, ela e a mãe, Nirmeen, mandaram relatos para o grupo Other Voice, organização que promove o diálogo entre israelenses e palestinos que vivem dos dois lados da fronteira de Israel com a faixa de Gaza.


Leia abaixo relato da garota repassado por uma representante israelense do Other Voice para a BBC Brasil:


"Hoje é o oitavo dia desta guerra terrível. Para mim, ontem foi o pior dia de todos. Quando eu acordei de manhã, um dos meus amigos me telefonou.

Quando perguntei como ele estava, ele estava com uma voz estranha. Ele disse: 'Bem, mas você tem notícias de alguns dos seus amigos?' Eu fiquei muito assustada e perguntei para ele se tinha algo errado. Ele me disse que Christine morreu. Eu fiquei muito chocada e até agora eu ainda não acredito. Eu liguei para alguns amigos para confirmar a notícia, e todos estavam muito tristes.


Ela era minha amiga havia quase quatro anos. Nós íamos à escola e ao YMCA (Associação Cristã de Moços) juntas. Eu estou triste, com medo e preocupada ao mesmo tempo, porque ela era como uma irmã para mim. Eu sinto pêsames por ela e pela família dela. Os pais dela fizeram o melhor que puderam, mas não foi o suficiente para salvá-la.


E se os meus pais não pudessem me proteger e me dar apoio quando eu preciso... eu vou morrer também? O que eu posso dizer agora é que o meu futuro está quase destruído.


Um foguete israelense atingiu minha escola nesta manhã, e a escola foi destruída completamente. Eu não consigo realmente imaginar por que eles estão bombardeando lugares religiosos e de educação, como mesquitas, escolas e universidades.


A cada explosão, nós sentimos nossa casa balançar e quase sendo destruída. E as pessoas que já perderam as suas casas? Eu estou chorando por causa da morte de uma amiga... E as pessoas que perderam pelo menos quatro ou cinco familiares? Depressão e medo estão tomando conta das nossas almas e cercando nossas casas... O que virá depois?


Não tem nada que eu queira mais do que o fim desta guerra logo e que o povo palestino possa viver como qualquer outro povo, que as crianças palestinas possam aproveitar as suas infâncias, como qualquer criança no mundo. Nos ajudem, porque somos todos seres humanos."

A última aldeia de Cingapura

terça-feira, janeiro 06, 2009

Foguetes do Hamas são desculpa política para invasão, diz professor israelense

Foto AFP (adicionada pelo blog)


‘Ocupação de territórios palestinos é um erro’, defende Neve Gordon. Segundo ele, ataques do Hamas são reação a essa ocupação.

Daniel Buarque
Do G1, em São Paulo

Enquanto se esconde com sua família para dormir em um abrigo anti-bomba em Negev, sul de Israel, o professor Neve Gordon foge à regra da guerra de propaganda do conflito que já deixou mais de 500 mortos e responsabiliza seu próprio país pelo conflito com os palestinos. Para ele, os ataques do Hamas são uma desculpa para uma ação com interesses políticos.

“A verdadeira razão da invasão é a proximidade da eleição em Israel. Além disso, os militares queriam mostrar serviço depois do fracasso no ataque ao Líbano em 2006”, disse, em entrevista ao G1, por telefone.

Para Neve, que nasceu em um kibutz e ensina ciência política na universidade Ben-Gurion, o problema real da violência na região é mais antigo de que a própria tomada de poder de Gaza pelo Hamas, em 2007, e também é responsabilidade de Israel. “A ocupação é um erro”, disse. “Israel é o ocupador [dos territórios palestinos], e essa é a base da violência pelas últimas décadas. A única forma de resolver este conflito é retroceder às fronteiras de 1967, reconhecendo o Estado palestino.”

Esta ocupação foi, inclusive, o tema de sua principal pesquisa acadêmica, publicada no livro “Israel’s Ocupation” (não lançado no Brasil). Sem desculpar o Hamas, ele admite que o grupo radical islâmico apenas reage à opressão.


“Sou contra toda forma de violência. Sou contra os ataques do Hamas, mas o ato da ocupação em si também é um ato de violência. Os foguetes são uma reação à ocupação, não podemos ignorar isso. Acho que os dois lados estão usando estratégias equivocadas nesse conflito de longa duração”, disse.

Ele contou que é atacado por outros pensadores israelenses por suas opiniões, mas diz que não sofre censura. “Sou criticado, mas aqui há liberdade de expressão”, disse.


Soberania e paz

O que acontece agora, segundo Gordon, é que muitos israelenses analisam de forma simplista a relação entre a Faixa de Gaza e seu país, alegando que a Faixa de Gaza foi desocupada há três anos, e que, desde então, o Hamas tem lançado foguetes em Israel. “O problema é que eles não admitem que os palestinos foram mantidos em uma jaula nos últimos três anos, sem soberania, sem liberdade de importação e exportação. Um líder do Hamas costumava dizer que, quando todas as portas estão fechadas, as portas da mesquita permanecem abertas. Israel fechou todas as portas.”

Gordon acredita que Israel vá vencer o atual conflito, mas teme que ele só piore a situação no futuro. “No longo prazo, invadir a Faixa de Gaza vai machucar Israel”, disse. Uma paz definitiva para a região, diz, dependeria ainda de grande atuação da comunidade internacional, e especialmente de Barack Obama. “Ele precisa pressionar Israel em busca de um processo de paz.”


Medo

Apesar de dormir em abrigos contra os foguetes do Hamas, Gordon diz não ter medo dos ataques do grupo palestino, e diz que ter uma confiança com base em estatísticas. “Poucas pessoas morreram em Israel nos anos recentes vitimadas pelos foguetes do Hamas, cerca de dez, enquanto mais de 4.000 morreram em acidentes de carro. Acho mais perigoso dirigir até Tel Aviv de que ser atingido por um desses foguetes.”