Os organizadores da coleção disseram que os 22 poemas dos 17 autores foram inicialmente "escritos em pasta de dente, ou riscados com bolinhas de gude em copos de plástico", expressando o que chamam de "forma mais básica de arte".
Como qualquer comunicação escrita é considerada um potencial perigo – as autoridades consideram que poderia haver códigos secretos nelas – os textos tiveram de ser passados pelos presos aos seus advogados às escondidas dos guardas da prisão.
Um comunicado da editora diz que, depois, "cada linha teve de ser submetida ao escrutínio do Pentágono" antes de ser publicada.
Inimigos
Cerca de 380 prisioneiros considerados "combatentes inimigos" pelos Estados Unidos estão sendo mantidos em Guantánamo.
A prisão, para seus críticos, se tornou um símbolo do desrespeito aos direitos humanos por parte dos Estados Unidos em sua chamada "guerra contra o terror".
Um dos poemas, traduzido livremente abaixo, foi divulgado pela editora. O autor, Jumah al Dossari, é um prisioneiro de 33 anos do Bahrain, que está em Guantánamo há mais de cinco – desde 2003 – em regime solitário. Autoridades americanas dizem que ele já tentou o suicídio 12 vezes desde que foi preso:
Poema da morte (tradução livre)
Jumah al Dossari
Tome meu sangue
Tome minha mortalha e
Os restos de meu corpo.
Tire fotografias de meu cadáver no túmulo,
solitário.
Mostre-os ao mundo,
Aos juízes e
Às pessoas de consciência,
Mostre-os aos homens de princípio e os
justos
E deixe-os sentir o peso da culpa diante
do mundo,
Dessa alma inocente.
Deixe-os sentir o peso diante de suas
crianças e diante da história
Desta alma estragada, sem pecados,
Desta alma que sofreu nas mãos
dos 'protetores da paz'.
O livro deve chamar atenção para a situação dos presos em Guantánamo, muitos detidos sem julgamento e "em centenas de casos, presos em circunstâncias questionáveis".
O editor do livro, o professor assistente da Universidade de Norte Illinois e advogado de 17 prisioneiros em Guantánamo, Marc Falkoff, disse que os homens vivem "em um limbo legal".
Comentando a obra, a poetisa americana, Adrienne Rich, escreveu: "Os poemas e as biografias dos poetas revelam uma dimensão dessa narrativa obscurecida oficialmente, da perspectiva de quem sofre".
"Os ensaios legais e literários recriam o contexto que produziu – sob circunstâncias atrozes – uma poética da dignidade humana".
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