domingo, dezembro 07, 2008

Líder de colonos judeus é indiciada por ataques na Cisjordânia

GUILA FLINT
da BBC Brasil, em Tel Aviv

A prisão de uma das principais líderes de colonos israelenses na Cisjordânia foi o último desdobramento de uma onda crescente de episódios de violência de colonos contra palestinos e até mesmo contra policiais e soldados israelenses.

Daniela Weiss, 63, foi indiciada nesta sexta-feira por abrigar em sua casa dois suspeitos de incendiar olivais da aldeia palestina de Kadum. Ela também foi acusada de agredir policiais e de tentar obstruir as investigações subseqüentes.

Mais que um episódio isolado, a prisão reflete o problema, cada vez maior segundo fontes israelenses, da violência de colonos israelenses contra palestinos e mesmo contra as forças de segurança da região.

Um estudo recente da ONU afirmou que os ataques de colonos chegaram a 222 só na primeira metade deste ano, contra 291 em todo o ano de 2007.

"Há um aumento da violência por parte de judeus em Judéia e Samaria (nomes bíblicos para o sul e o norte da Cisjordânia)", disse o general israelense Gadi Shamni, comandante das forças que controlam a Cisjordânia.

Para o general, "trata-se de uma mudança muito significativa" porque, no passado, apenas alguns indivíduos se envolviam em atividades deste tipo.

Hoje, diz o general, "centenas estão envolvidos em ações conspiratórias contra palestinos e contra as forças de segurança".

Atentado

Daniela Weiss, uma das principais fundadoras do movimento de colonização dos territórios palestinos, ocupados por Israel durante a guerra de 1967, foi indiciada nesta sexta-feira em um tribunal na cidade de Kfar Saba pelo caso do incêndio de olivais na aldeia palestina de Kadum, no norte da Cisjordânia.

Weiss, que faz parte da liderança do movimento dos colonos desde os anos 70, também esteve envolvida na tentativa de instalar um assentamento ilegal, denominado Shvut Ami, nas terras da aldeia de Kadum. A colônia clandestina foi desmontada na quinta-feira pelo Exército israelense.

De acordo com o jornal "Haaretz", o incêndio teria sido uma represália dos colonos à retirada do assentamento ilegal.

O incidente na Cisjordânia ocorre uma semana depois de um atentado, em Jerusalém, contra o intelectual pacifista Zeev Sternhell.

Bomba

Sternhell, 73, um conhecido crítico da ocupação e da colonização dos territórios palestinos, ficou levemente ferido quando uma bomba explodiu junto à porta de entrada de sua casa.

A polícia atribui o atentado a extremistas de direita, mas ainda não prendeu os responsáveis.

Após escapar do incidente, Sternhell afirmou que o atentado "demonstra que a violência dos colonos está vazando dos territórios ocupados para dentro de Israel".

"Se colonos que espancam palestinos, derrubam suas árvores e destroem suas casas, ficam impunes, essa violência também pode ocorrer para o lado de cá da Linha Verde (dentro das fronteiras de Israel)", acrescentou.

Especialista na história do fascismo italiano, Sternhell disse que "esse tipo de impunidade levou ao colapso de democracias frágeis na Europa".

"O atentado contra mim demonstra que a democracia israelense é frágil e que a sociedade deve se organizar para defendê-la", completou.


*******

Curiosidades

# Na cidade palestina de Hebron, em enclaves fortificados, vivem aproximadamente 650 judeus. O exército israelense mantém no local três militares por colono.

# ONGs denunciaram recentemente que 90% dos processos apresentados por palestinos que sofreram algum tipo de abuso por parte de soldados israelenses são arquivados sem que se abra o julgamento. Ainda segundo o El Pais, esses abusos são comuns na região.

# Este ano um soldado celebrou seu licenciamento das Forças forçando um grupo de palestinos a subirem em um veículo militar e depois jogou-os do carro que andava a 80 km/h. Um dos palestinos morreu e outro ficou gravemente ferido. O soldado foi condenado a seis anos de prisão depois de um acordo judicial.

Nenhum comentário: