quarta-feira, outubro 29, 2008

Por que ninguém protestou contra a maior mesquita da Alemanha

Carolin Jenkner

A maior mesquita da Alemanha foi inaugurada na cidade de Duisburg no domingo (25/10) e já se tornou um símbolo de integração de sucesso. Diferentemente de outros projetos de mesquitas na Alemanha, não houve virtualmente nenhum protesto da comunidade local.

A tenda próxima à mesquita, no bairro de Marxloh de Duisburg, uma cidade industrial e de mineração na região do Ruhr na Alemanha, podia acomodar 3.500 pessoas, mas não foi suficiente para a multidão que apareceu no domingo.

Milhares de cidadãos de Duisburg tiveram que ficar do lado de fora para testemunhar este dia histórico em uma tela gigantesca pública. A maior mesquita da Alemanha foi inaugurada e inclui um centro de convenções para todo o distrito -um projeto sem precedentes na Alemanha.

Políticos, representantes da igreja e o conselho da comunidade islâmica local concordam que a mesquita estabelece um exemplo de integração positivo.

O governador do Estado da Renânia do Norte-Vestfália, Jürgen Rüttgers, disse: "Precisamos de mais mesquitas neste país, não escondidas, mas visíveis e reconhecíveis". O prefeito de Duisburg, Adolf Sauerland, disse que sua cidade lidou bem com a integração.

Todos os palestrantes elogiaram o que distinguiu a nova mesquita de Duisburg de outros projetos de construção de mesquita de Alemanha: em Duisburg, não houve praticamente protesto algum contra a construção.

Pinturas elaboradas e bronze

"O fato de podermos todos nos unir para marcar a inauguração é realmente um pequeno milagre de Marxloh", disse Elif Saat, diretora do Centro de Educação do Sindicato Turco-islâmico Ditib de Marxloh.

Em contraste com os projetos recentes de construção de mesquitas em Colônia e Berlim, não houve campanhas locais contra a mesquita de Duisburg.

Os partidos de extrema-direita não conseguiram usar a mesquita para atiçar o sentimento anti-islâmico. Houve uma única manifestação pelo Partido Democrático Nacional de extrema-direita. Entretanto, o número de contramanifestações foi muito maior.

A reclamação ocasional de não-muçulmanos ouvida aqui e ali pareceu dar lugar gradualmente para o orgulho cívico pela construção de prestígio.

O domo tem 23 m de altura e o interior da mesquita, que pode acomodar até 1.200 fiéis, é decorado com pinturas elaboradas e bronze.

As janelas são de vidro azul e um candelabro dourado com vários metros de diâmetro fica pendurado no domo. Na sala de preces, os pés afundam no carpete.

Antes, os muçulmanos de Marxloh tinham que se virar com uma cafeteria fora de uso como local de adoração. Em seu lugar agora está uma casa de Deus digna e iluminada.

O prédio de 7 milhões de euros (cerca de R$ 21 milhões) tem um centro de convenções no subsolo que serve a todas as pessoas do distrito de Marxloh. O Estado da Renânia do Norte-Vestfália investiu 3,2 milhões de euros (aproximadamente R$ 9,6 milhões) no centro de convenções. O restante do dinheiro para a mesquita veio exclusivamente de doações.

Sem medo ou preconceito

O prédio já parece estar beneficiando o bairro. Assim que a construção começou, as casas recém construídas do outro lado da rua subitamente tornaram-se fácil de vender e os preços dos imóveis na área - que é marcada pelo alto desemprego e alta parcela de imigrantes - estão subindo.

Por que tudo ocorreu tão tranquilamente em Marxloh? Porque o minarete de 34 m tem a metade da altura da espiral da igreja católica local? Ou porque a comunidade islâmica decidiu desde o início dispensar o chamado do muezzin?

Essas podem ser duas questões simbólicas que contribuíram para o sucesso. Entretanto, muito mais importante, é o simples fato de as pessoas em Marxloh terem se sentado para conversar umas com as outras. Elas falaram abertamente sem medo ou preconceito e sem inibições.

Pessoas como Elif Saat e Zülfiye Kaykin, gerente do centro de convenções, e o porta-voz da imprensa Mustafa Kücük iniciaram o debate.

Todos os três são da segunda geração de imigrantes, filhos de "trabalhadores convidados" turcos que foram convidados para a Alemanha nos anos 50, 60 e 70 para superar a falta de trabalhadores enquanto a Alemanha desenvolvia seu milagre econômico.

Centro de reunião para a região

Eles se sentem alemães, estão prontos a arcar com a responsabilidade cívica e podem facilmente aparecer em qualquer programa de televisão e defender sua posição.

"Passamos muito tempo conversando com os outros, mas não sobre os outros", disse Kücük, 39, enquanto mostrava a mesquita.

Durante o dia, ele trabalha na siderúrgica Thyssen. À noite, ele trabalha para a comunidade. Agora, ele tirou férias do trabalho e passa 16h por dia mostrando o milagre de Marxloh aos jornalistas. Está sempre com pressa e tem dois telefones celulares nos bolsos de seu terno cinza que tocam constantemente.

Kücük e seus colegas tiveram a idéia de construir um centro de convenções além da mesquita, de fundir um local de adoração com um ponto de encontro para os moradores locais.

"Nós defendemos uns aos outros, nossa geração está pronta a assumir as responsabilidades", diz ele. E, como sua geração acreditava que uma construção como essa precisava do apoio de toda a comunidade, montou um conselho para permitir que todo o distrito discutisse o projeto.

O conselho também incluiu o padre católico Michael Kemper. Sua igreja, St. Peter's, fica a apenas 300 m da mesquita. "Eu fui a favor da construção da mesquita desde o início. Afinal, é uma casa de Deus", disse Kemper.

O padre elogiou as relações amigáveis com a comunidade muçulmana. Muitos filhos de muçulmanos visitam o jardim de infância católico e católicos e muçulmanos se reúnem nos festivais.

Os trabalhadores convidados chegaram

"Temos que permanecer unidos", disse o padre. Ele disse que há uma sensação de união no distrito. "A necessidade de comunicação está 1.000 m abaixo de nós, nas minas. Os mineiros alemães e turcos trabalharam lado a lado. Eles tiveram que ser capazes de compreender uns aos outros, confiar uns nos outros. Esse sentimento foi transmitido ao distrito.

Kemper, entretanto, diz que sempre houve ceticismo na comunidade. "Há um temor de ser dominado. Mas há uma aceitação crescente na comunidade. E, acima de tudo, há gratidão por tudo ter ocorrido em paz."

Ninguém em Marxloh quer os conflitos que aconteceram em Colônia.

O presidente da mesquita, Mehmet Özay, enfatizou esse ponto na cerimônia de abertura: "Posso assegurar que esta bela nova mesquita é bastante segura, não um símbolo de divisão social na Alemanha, mas um símbolo dos benefícios da interação humana, religiosa, cultural e social", disse ele.

Os trabalhadores convidados e seus descendentes, disse ele, agora chegaram plenamente em Duisburg e na Alemanha.

Tradução: Deborah Weinberg

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