Dois terços dos alunos se recusam a estudar junto com marroquinos e ciganos
Antía Castedo e Anaís Berdié
Em Madri
Um balde de água fria em plena discussão sobre a integração nos colégios. Os estudantes espanhóis são pouco tolerantes com os estrangeiros, principalmente se tiverem de ficar ao lado deles na escola. A maior discriminação é dirigida aos marroquinos e aos ciganos. Quase dois terços dos estudantes de segundo grau espanhóis não gostariam de compartilhar tarefas com estrangeiros, segundo um estudo do Observatório Estatal de Convivência Escolar, órgão do Ministério da Educação.
A pesquisa foi realizada entre 23.100 estudantes do segundo grau e mais de 6.000 professores em 300 colégios públicos e privados de todas as comunidades autônomas, exceto Catalunha. Procurou-se determinar a qualidade da convivência nas escolas e os obstáculos que se apresentam para alcançá-la.
A disposição dos jovens para dividir tarefas com alunos estrangeiros melhora um pouco em relação aos latino-americanos ou os procedentes da África negra, mas continua negativa. Quase a metade dos adolescentes espanhóis (46%) está nada ou pouco disposta a trabalhar e estudar com um latino-americano. E mais da metade recusaria um judeu como companheiro de carteira. Os mais aceitos são os europeus ocidentais e os americanos.
Os coletivos de estudantes ciganos, judeus e marroquinos estão "sob um risco muito sério de sofrer intolerância", na opinião de María José Díaz-Aguado, diretora do estudo e catedrática de psicologia da educação na Universidade Complutense de Madri. É um fato grave porque, segundo a especialista, "não houve uma melhora nos últimos anos" em relação a essas minorias.
Esses resultados "só fazem confirmar a reprodução de discursos racistas dos adultos em relação a grupos muito estigmatizados pela sociedade". É a opinião de Silvia Carrasco e Maribel Ponferrada, do grupo de pesquisa Emigra da Universidade Autônoma de Barcelona. Segundo os dados de um estudo sobre convivência e conflito realizado nos colégios secundários da Catalunha, os alunos estrangeiros "sofrem um maior número de situações de intimidação e de agressões verbais e físicas" que os demais.
A essência dessa rejeição, na opinião de Mariano Fernández Enguita, catedrático de sociologia na Universidade de Salamanca, são os preconceitos e o choque entre diferentes modos de vida. "A escola é um pequeno microcosmo que corresponde à sociedade ao redor", ele afirma, e conclui que exatamente por isso é o melhor lugar para se aprender a conviver. Os dados expostos nessa sondagem da opinião dos alunos não é o que preocupa esse especialista em educação intercultural, mas sim "se os colégios têm ou não projetos" para ajudar a melhorar esses problemas.
A disposição negativa para trabalhar com determinados estrangeiros nas classes não se traduz, porém, em atitudes violentas dos adolescentes em relação às minorias. Mais de 90% dos estudantes secundários não apóiam os grupos que promovem a xenofobia ou a violência contra marroquinos, ciganos e judeus, e continua havendo 8% que declaram abertamente sua simpatia por eles. O racismo explícito pode levar esses estudantes a ser captados pelos grupos xenófobos e violentos. Algo que é preocupante, porque "o racismo e a rejeição à democracia andam juntos", salienta Díaz-Aguado.
Na opinião do catedrático Fernández Enguita, estamos vivendo um momento de "ressaca" diante da imigração, "alimentado pelo debate político e a crise econômica", mas que não considera especialmente alarmante. O que o preocupa é que os colégios costumam ser "disciplinados no formal", isto é, politicamente corretos na hora de falar de tolerância e respeito, mas o simples discurso "não garante absolutamente que a escola preste essa ajuda".
A solução, segundo o especialista, começaria com a elaboração de projetos concretos que ensinem os jovens a enfrentar os problemas de convivência. Enquanto quase 90% dos professores que responderam à pesquisa do Ministério da Educação pensam que em seus colégios se trabalha para promover uma boa recepção aos alunos estrangeiros, só 64% dos alunos concordam.
A mesma maioria (70%) de professores acredita que na escola se fala de racismo e dos danos que ele provoca, como de estudantes que não percebem absolutamente isso. E um em cada quatro alunos pensa que a tolerância e o respeito às culturas não são incluídos em sua formação antiviolência.
Assediados por ser gordos
O assédio escolar afeta pela primeira vez de forma visível os alunos com alguns quilos a mais. Quase 30% dos agressores justificam sua atitude diante do companheiro porque "está gordo", e as vítimas têm a mesma percepção. Isto talvez se deva, segundo a diretora da pesquisa do Observatório Estatal da Convivência, a uma mudança de valores que dá cada vez mais valor à imagem física.
A pesquisa do Ministério da Educação também salienta que "80% dos alunos rejeitam as condutas violentas". No entanto, 3,8% declaram ter sofrido assédio com freqüência ou muitas vezes nos últimos dois meses, e 2,4% reconhecem que foi o agressor.
Outras características que tornam as vítimas mais vulneráveis, segundo os assediadores, são que "estão isoladas" ou que "não se defendem". Os alunos estrangeiros também não se saíram bem nessa ocasião. Quase 18% dos assediadores admitem que os alunos ciganos ou procedentes de outro país podem ser vítimas mais facilmente. A mesma porcentagem acredita que a cor da pele é uma característica relevante.
Díaz-Aguado considera que os resultados, que estão na mesma linha de estudos anteriores como o realizado pelo Defensor do Povo sobre violência escolar em 2006, indicam que "houve um avanço importante na prevenção e no tratamento do assédio escolar". Os alunos mostram-se muito mais dispostos que antes a recorrer aos professores.
O trabalho também questiona o tema da violência de gênero. Os especialistas dizem que nas escolas se avançou muito em termos de igualdade, algo que é corroborado pela diretora desse estudo. Diminuiu o número de alunos que justificam a violência contra as mulheres. No entanto, 4% ainda acreditam que é razoável que um homem agrida sua mulher ou sua namorada quando ela decide deixá-lo. Isso implica um claro risco de que se acabe reproduzindo a violência de gênero, segundo Díaz-Aguado. E 7% dos pesquisados consideram que "o homem que parece agressivo é mais atraente".
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves (UOL)
sábado, julho 19, 2008
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