Laurent Zecchini
Foi um relatório interno da força aérea americana que provocou a polêmica: as condições de armazenamento do arsenal nuclear aerotransportado dos EUA estacionado no continente europeu são desastrosas do ponto de vista de segurança. A decisão de realizar essa investigação foi tomada depois que a força aérea, em agosto de 2007, perdeu o rastro durante 36 horas de seis bombas nucleares que haviam atravessado o território dos EUA a bordo de um bombardeiro estratégico.
Em fevereiro de 2008 o Pentágono divulgou uma versão muito atenuada desse relatório, até o momento em que a Federação de Cientistas Americanos, uma organização não-governamental que serve de autoridade sobre questões nucleares, publicou uma versão parcialmente "desclassificada" do documento. Esta salientava que as condições de segurança vigentes na "maioria dos locais" onde estão depositadas bombas nucleares americanas B-61 no Velho Continente (Alemanha, Itália, Países Baixos, Bélgica, Reino Unido e Turquia) são muito inferiores aos padrões exigidos pelo Pentágono.
O isolamento das instalações, os sistemas de iluminação e de segurança são deficientes; alguns edifícios precisam de reparos e os guardas de segurança muitas vezes não têm a formação ou a experiência necessárias. Às vezes soldados incorporados há nove meses são encarregados de proteger as armas nucleares de roubos. Os problemas mais graves foram identificados nas bases aéreas de Büchel (Alemanha) e de Ghedi Torre (Itália).
Segundo certas informações, Washington teria decidido retirar as bombas de pelo menos uma das oito bases em que estão depositadas. Na Alemanha essas revelações provocaram uma viva polêmica, quando a oposição exigiu a retirada imediata das armas nucleares americanas baseadas no país. "Essas armas nucleares são um vestígio da guerra fria e devem ir embora", estimou o chefe do Partido Liberal (FDP), Guido Westerwelle, apoiado pelo SPD e os Verdes.
Embaraçado por esse assunto, o governo da chanceler Angela Merkel lembrou no entanto que a Alemanha é ligada pelos acordos da Otan sobre dissuasão e estacionamento de armas nucleares na Europa, e Berlim também estima que "uma capacidade de dissuasão militar inclui não somente a capacidade convencional, mas também componentes nucleares".
Informações conhecidas
Há alguns meses o ministro belga da Defesa, Pieter De Crem, revelou publicamente a localização de bombas nucleares americanas, para grande alarme da Aliança Atlântica, para a qual esses locais são em princípio secretos. Um porta-voz da Otan salientou na última segunda-feira (23) que a segurança das armas nucleares americanas na Europa cabe aos EUA.
Na realidade faz vários anos que as informações sobre os locais e o número de bombas americanas estacionadas na Europa (de 250 a 480, segundo as estimativas) são conhecidas. No fim da guerra fria os EUA reduziram em 90% o número de suas armas nucleares táticas na Europa (mais de 4 mil na época), e as que estavam depositadas na Grécia e no Canadá foram retiradas.
Essas armas, segundo Isabelle Facon e Bruno Tertrais, em um estudo recente da Fundação para Pesquisa Estratégica, são concebidas para ser despejadas pela aviação americana (cerca de 300 bombas), assim como pela dos países aliados (cerca de 180 bombas). Os depósitos nucleares da Otan são guardados pelas forças americanas, mas os países anfitriões devem garantir a segurança externa das bases.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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