quinta-feira, fevereiro 15, 2007

24 Horas

JACK BAUER ESTARIA ESTIMULANDO SOLDADOS AMERICANOS A TORTURAR PRISIONEIROS NO IRAQUE


Num episódio de "24 Horas", Jack Bauer mostra a um terrorista cenas de membros de sua família sendo executados e ameaça matar seus filhos se não conseguir a informação de que precisa - mas tudo não passava de uma simulação usada pelos agentes da CIA como técnica de interrogatório.

Agora uma organização de direitos humanos dos EUA está chegando à conclusão de que soldados do exército americano no Iraque estariam usando técnicas de tortura aprendidas com as séries de TV para "melhorar" sua performance na hora de interrogar prisioneiros.

Segundo a Human Rights First, desde o 11 de setembro o número de cenas de tortura no horário nobre da TV americana aumentou consideravelmente. A organização promoveu um encontro entre militares aposentados que faziam interrogatórios com prisioneiros e produtores das séries "24 Horas" e "Lost" para conversar sobre o preocupante fato de vida estar imitando a arte.

Segundo o site Yahoo News, Tony Lagouranis, um ex-militar americano que interrogou prisioneiros na famosa prisão de Abu Ghraib em Bagdá e esteve presente ao encontro, afirmou que presenciou falsas execuções como forma de persuasão de prisioneiros, como foi visto em "24 Horas".

Claro que a TV não é o único fator a influenciar essa prática de interrogatório - segundo Lagouranis, os interrogadores geralmente são jovens soldados, com pouco treinamento e sob extrema pressão de seus superiores para conseguirem informações o mais rápido possível. Mas já é motivo de preocupação para a organização que um professor da academia de soldados tenha afirmado que Jack Bauer representa um de seus maiores desafios no treinamento.

Outro oficial aposentado do exército americano, coronel Stu Herrington, que aprendeu técnicas de interrogatório no Vietnã, afirmou que, se Jack Bauer trabalhasse para ele, seria levado à corte marcial pelos seus crimes contra os prisioneiros.

Antes de 2001, as poucas cenas de tortura no horário nobre apareciam sendo cometidas pelos vilões das séries. Em 1996 e 1997 nem chegou a haver cenas de tortura na TV, segundo uma organização que monitora o conteúdo da programação.

Já em 2003 houve 228 cenas desse tipo, vistas em séries como "Alias", "Law & Order", "The Shield" e até "Star Trek: Voyager". Em "Lost", o iraquiano Sayid torturou o golpista Sawyer e chegou a dizer, com uma faca na mão, "talvez se você perder um olho você comece a falar".

Howard Gordon, produtor-executivo de "24 Horas", sugeriu que um sentimento de desamparo na população americana por causa do terrorismo e da guerra no Iraque possa estar sendo refletido na TV. "Mas nós não fazemos um documentário, nem um manual de interrogatórios", afirma. "Nós fazemos apenas um programa de TV."

Jill Savitt, da organização Human Rights Firs, diz que entende a posição do produtor e que seu objetivo é educar os roteiristas que escrevem cenas de interrogatórios sem nunca ter conversado com um interrogador da vida real.

Ela tenta conseguir o apoio de Hollywood para sua causa e pensa em convidar Kiefer Sutherland para dar palestras a soldados na academia e explicar a eles que Jack Bauer não passa de ficção - e, em última instância, que a tortura não pode ser tolerada em nenhuma circunstância.

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