quinta-feira, março 13, 2008

Minas terrestres bloqueiam acesso a petróleo e gás

Minas terrestres nazistas bloqueiam o acesso do Egito a petróleo e gás

Joachim Hoelzgen

O Egito é um dos países mais cheios de minas no mundo. A munição sem explodir que ficou em seu deserto das batalhas da Segunda Guerra Mundial classifica o país ao lado do Afeganistão nessa lista duvidosa. Todos os anos beduínos e agricultores encontram minas e morteiros não-explodidos, e não é raro que bombas não descobertas explodam em meio a restos de metal recuperados.

Cerca de 22 milhões de minas e munições não-explodidas ficaram ocultas no noroeste do Egito desde a Segunda Guerra Mundial, segundo disse o diretor do projeto nacional de limpeza de minas e desenvolvimento do Ministério da Cooperação Internacional, Fathy El-Shazly, ao serviço de notícias da ONU, Irin.

Muitas minas estão perto do campo de batalha de El Alamein, onde o Oitavo Exército britânico forçou o Africa Corps de Rommel a recuar até a Tunísia. Aquela guerra e a paz atual estão muito próximas na terra de ninguém do deserto. Minas antitanques, minas antipessoais e morteiros de artilharia sem explodir bloqueiam as rotas de transporte de hoje.



Comandante do exército Rommel (frente, à dir.) caminha com oficiais nazistas pelo Saara


O antigo campo de batalha é uma arca do tesouro de matérias-primas como petróleo, gás natural e minério. O Egito era considerado um pequeno ator no campo do petróleo, mas hoje especialistas estimam que 4,8 bilhões de barris de petróleo estejam sob as areias do noroeste -o suficiente para o país se equiparar a Angola, membro da Opep, em termos de produção de petróleo.

Um campo de petróleo perto de El Alamein já foi desenvolvido, e o petróleo está sendo produzido na famosa depressão de Qattara, evitada pelas forças britânicas e alemãs durante a guerra por causa de seus perigosos lagos salgados, altos penhascos e areias finas que tornavam a área inacessível a veículos militares.

O Egito também tem 1,94 trilhão de metros cúbicos de gás natural, o que representa cerca de 1,1% das reservas globais, e outro 0,38 trilhão que estariam situados no noroeste e no deserto, longe da costa. Oleodutos já correm de dois campos de gás no local até Alexandria. Mas as minas estão obstruindo a busca por mais petróleo e gás.

Até agora os militares removeram apenas 2,9 milhões de minas e morteiros sem explodir da área de batalha, e a remoção teve de parar devido à falta de verbas. "A costa noroeste tem um grande potencial de desenvolvimento; a área é uma das maiores promessas para o Egito. Mas as minas impedem o acesso a um território que representa aproximadamente 22% do total do país", disse El-Shazly à Irin.

Tática principal no deserto
Enquanto os exércitos do Eixo e os aliados combatiam nos desertos do norte da África, tentaram limitar mutuamente sua mobilidade colocando campos minados. A "Raposa do Deserto" alemã, Erwin Rommel, ordenou que 500 mil minas fossem colocadas na cidade costeira de El Alamein, mas os britânicos teriam colocado ainda mais. A maioria delas está no local principal da batalha, ao sul da costa e no deserto. As minas também foram colocadas sob detritos e ao redor de fortificações no litoral.

A região poderia ter um futuro brilhante com o turismo, se não fosse esse legado explosivo. O bilionário egípcio Ibrahim Kamel, diretor do conglomerado Kato Group, já construiu um aeroporto internacional em El Alamein como porta de entrada para turistas europeus. Kamel quer construir grandes hotéis em uma baía no Mediterrâneo e diz que a área poderá um dia rivalizar com os resorts egípcios no mar Vermelho. Vôos fretados da Grã-Bretanha já pousam nesse aeroporto, levando turistas para as praias e atrações a oeste de El Alamein, por exemplo na capital provinciana de Marsa Matruh.

O governo egípcio e a ONU também têm planos para reforçar o turismo e a agricultura na região, especialmente de centeio e legumes. Isso permitiria que 1,5 milhão de pessoas fossem transferidas para o noroeste do superlotado vale do Nilo -se não fosse pelas minas.

O especialista em munições El-Shazly agora pede que as potências que combateram na Segunda Guerra Mundial voltem ao deserto com equipamento especial para detecção de minas e limpem sua sujeira. Um novo programa de limpeza de minas deverá ser lançado este ano e o governo pretende melhorar o atendimento às vítimas de explosões de minas. Mais de 8 mil pessoas foram feridas ou mortas por munições alemãs, italianas e britânicas desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves